quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Para refletirmos: Por que é tão “incômodo” atender adolescentes que usam drogas?

Por que é tão “incômodo” atender adolescentes que usam drogas? – uma provocação
Frequentemente desejamos falar do que é um adolescente, um jeito de ser adolescente. Deparamo-nos com um turbilhão no corpo, uma explosão de hormônios e transformações, sementes revolucionárias, “atentados ao poder” estabelecido. Mas a adolescência é adolescências, formas de subjetivação construídas socialmente, culturalmente, com todos os atravessamentos sociohistóricos. “Aborrecentes”, dirão alguns, ou muitos. E por que aborrecem tanto? O que nos adolescentes nos incomoda tanto, a nós adultos? Os adolescentes apontam pro corpo, pro que acontece no encontro dos corpos. O filósofo Spinoza perguntava afinal, “o que pode um corpo?” Um corpo e seus afetos, seus sentidos, no encontro com outros corpos?
Adolescer é sair de casa, tentar sair de casa, ir ao encontro da rua, dos bandos, das tribos. Trafegar na fronteira, um lugar sempre fora do lugar. Nestas andanças pelas fronteiras, experimentar, transcender, viajar. De preferencia, com o bando. A sexualidade, a arte, os usos de drogas. Faço questão de falar assim – “usos” e não uso. Pois estamos falando de multiplicidades, prazer, alívio, remédio, veneno. Mas estamos falando sobretudo de encontros. Encontros no sentido spinozista. Um bom encontro aumenta a nossa potência de ser e agir no mundo, um mau encontro diminui esta potência. Pensando assim saímos do campo da moralidade e nos aproximamos da experiência. Podemos fazer bons e maus encontros com pessoas, lugares, trabalhos, e também com as drogas, uma ou outra. É interessante pensar isto num contexto, à luz da história de um sujeito e de sua rede de sentidos, da relação construída – de uma forma dinâmica, viva. Se diante de qualquer uso de drogas, pressupomos um problema e uma exigência imediata de abstinência, perdemos a oportunidade de encontrar a riqueza das possibilidades, que pode inclusive abarcar um uso problemático, mas que tampouco cessará por decreto.
Atender um adolescente que usa drogas talvez seja incômodo, pois entramos com ele numa “guerra de forças”, numa “queda de braço” ao tentarmos enquadrá-lo, reduzi-lo e aprisiona-lo em nossos desejos, prescrições e proscrições. E se as palavras de ordem não fossem pecado, doença e crime? Como seria se com eles caminhássemos, ao encontro do mistério de uma construção conjunta, em direção à potência e ao cuidado de si? Flertando com cidadania, liberdade e desejo? Como é que seria?


Coletivo DAR... Desentorpecendo a Razão!!!